Vereador do RIo relaciona gays com aumento da criminalidade
O vereador
do PP do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (sim, filho do Jair)
apresentou um projeto para criar o dia do Orgulho Hétero na cidade. Até
aí, beleza. Ele tem o direito de apresentar o projeto que bem entender.
Mas a justificativa do cara não dá para passar em branco. O vereador
relaciona o movimento gay ao aumento do número de casos de Aids e à
criminalidade. Ele escreveu a certa altura de seu projeto que a
expansão do movimento pelos direitos civis de homossexuais
"coincide com o crescimento assustador de pessoas infectadas pelo vírus
HIV a massificação de movimentos homossexuais que buscam a
desconstrução da heterossexualidade que, dentre outros efeitos nocivos,
geram crianças órfãs cujos pais faleceram em decorrência de AIDS, fato
que contribui para o aumento da criminalidade".
Vamos a alguns pontos?
-
O que seria "descontrução da heterossexualidade"? Será que para o
vereador a sexualidade é como um Lego? A gente monta as peças para
virar um avião. Brinca de avião. Até que enjoa de brincar de avião,
descontrói o avião e faz das peças soltas uma rosa?
- O
movimento organizado pelos direitos civis de homossexuais é o mais
recente dos "levantes" (o dos negros e mulheres vieram bem antes). Foi
a partir de Stonewall que se começou a falar sobre direitos gays e o
movimento se espalhou pelo mundo a partir de 1969. No Brasil foi logo
depois disso, quando o grupo SOMOS foi criado em 1978. O diagnóstico da
Aids foi descoberto entre 1979 e 1982, quando a doença se espalhou
espantosamente. Mas há estudos que dizem que o HIV já fazia suas
vítimas desde a década de 50. De qualquer forma, são dez anos de
diferença entre a popularização do movimento gay pelo mundo e a
epidemia da Aids. Vale lembrar, ainda, que os primeiros ativistas
anti-Aids foram examente os militantes gays.
- E agora, a melhor
frase: "(a desconstrução da heterossexualidade) dentre outros efeitos
nocivos, geram crianças órfãs cujos pais faleceram em decorrência de
AIDS, fato que contribui para o aumento da criminalidade". O que ele
parece querer dizer é que gays estão adotando (ou gerando) crianças,
mas daí os pais morrem e os filhos ficam órfãos e, ao mesmo tempo,
bandidos? É tanta informação que eu não sei por onde começar. POis bem:
o vereador não está lendo o boletim epidemológico do Ministério da
Saúde sobre a infecção do HIV (que mostra a equivalência da incidência
do HIV entre héteros e homossexuais desde meados da década passada),
também não está informado sobre as pesquisas psicosociais que derrubam
todas as teses de que filhos de pais gays sofrem mais que seus colegas
criados em famílias "tradicionais" (até a revista Superinteressante fez
matéria de capa sobre o assunto); também não imagina que criminalidade
e orfandade não são sinônimos. E, para finalizar: a criação do "Dia do
Orgulho Hétero" iria frear como tudo isso?
Vamos piorar um pouco
a questão? Segundo o Jornal do Brasil, a proposta foi apresentada na
última quinta-feira, 15 de março, na Câmara do Rio de Janeiro e o líder
do governo, Adilson Pires (PT-RJ), pediu que Bolsonaro apresentasse
outra justificativa, já que o texto de sua autoria era considerado
homofóbico (ainda bem). No entanto, Pires ressaltou que apoia a criação
da data comemorativa.
*A gente precisa eleger vereadores gays.
Escrito por Marcelo Cia às 16:51:50
http://mixbrasil.uol.com.br/blogs/cia/2012/03/17/vereador-do-rio-relaciona-gays-com-aumento-da-criminalidade.html